Autor: Giovanni Reale


Pois bem, o homem do consumismo exagerado que vive pelo hic e para o nunc, que busca satisfazer todos os seus desejos, devorando tudo e tentando ter cada vez mais, é profeticamente representado com a emblemática imagem da “tarambola” (Ave caradriiforme, da família Charadriidae). Trata-se de um estranho passáro (não está em nenhum manual de zoologia!), supostamente muito voraz, que come e evacua sem parar.

Cap 2 - Ideologismo e Esquecimento do Verdadeiro

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As verdades supremas, de fato, têm tal poder que, indubitavelmente, quem as nega é obrigado a utilizá-las na prórpia tentativa de negá-las. No quarto livro da Metafísica, o Estagirita mostra como esse é o caso do princípio de não contradição.

Quem nega a verdade do princípio da não contradição não poderia fugir a ele nem sequer se renunciasse ao emprego de palavras, limitando-se a comunicar seu pensamento com gestos indicativos. Com efeito, tais gestos só são comunicantes quando expressam algo determinado e não, ao mesmo tempo, também seu contrário. Quem nega o princípio da não contradição condena-se assim a um isolamento quase total. Poderiamos até dizer que esta seria a forma mais extrema do solipsismo tanto “lógico” quanto “ético”. Lógico, porque nasce da violação daquele princípio que Aristóteles consideraava o princípio regulador de todo discurso; ético em suas consequências, porque, no nível da práxis, a ruptura da comunicação e o completo voltar-se para si mesmos abrem caminho para a ampliação da violência. E o melhor remédio para violência é, como ensinava Sócrates, começar a discutir - portanto, voltar a comunicar - de uma maneira que também o outro possa expressar as próprias opiniões e cesse assim a (não) lógica da opressão como única resposta à opressão. Portanto, quem deseja refutar a verdade é refutado por ela justamento no momento em que procura refutá-la.