Autor: Dino Buzzati


Somos consumidos pela rotina incessante sem perceber, de pouco a pouco o tempo vai passando e quando se vê a juventude já se foi, e em seguida já estamos velhos, no fim da vida. A vida acontece no dia a dia. Há de se ter cuidado ao viver no automático.

Sem perceber, Drogo descobre que na sua vigília sobre o forte deixou passar anos e décadas e que, embora os seus velhos amigos da cidade tenham tido filhos, casados e vivido uma vida plena, ele não conseguiu nada, a não ser a solidariedade para com os seus companheiros soldados em sua longa e paciente vigília. Quando finalmente chega o ataque dos tártaros, Drogo adoece e o novo chefe da fortaleza o dispensa. Drogo, voltando para casa, morre sozinho em uma pousada.

Drogo deu-se conta de que os homens, ainda que possam se querer bem, permancem sempre distantes; que, se alguém sofre, a dor é totalmente sua, ninguém mais pode tomar para si uma mínima parte dela; que, se alguém sofre, os outros não vão sofrer por isso, ainda que o amor seja grande, e é isso que causa a solidação da vida. ~144

Drogo persiste na ilusão de que o importante ainda está para começar, Giovanni aguarda, paciente, a sua hora que nunca chegou, não pensa que o futuro se reduziu terrivelmente, não é mais como antes, quando o tempo vindouro podia parecer-lhe um período imenso, uma riqueza inexaurível que ele não corria nenhum risco em esbanjar. ~147